segunda-feira, 3 de fevereiro de 2014

Novo site

Caros amigos.

Após quase um mês de atividades, com muita alegria os convido para visitar meu novo site.

Dalenogare.com

Com um visual mais limpo e um pouco mais organizado, a plataforma também trouxe mais estabilidade para as postagens.

Conto com a visita de vocês!

See you at the movies!

domingo, 2 de fevereiro de 2014

Umberto D. (Humberto D.) - 1952




Umberto D foi um fracasso de bilheteria na época de seu lançamento, em 1952. A história escrita por Cesare Zavattini é tão deprimente que os italianos, em meio a uma tentativa de reestruturação política e econômica, não aceitaram ver a representação de um filho da desgraça social na grande tela. Isto fez com que Umberto D se tornasse o responsável direto pelo fim do neorrealismo italiano puro: as críticas lançadas ao diretor marcaram as transformações feitas por Federico Fellini, que, nas palavras de Mark Shiel, criou um neorrealismo “autoconsciente de seu papel” (o que pode ser notado já em La Strada, produzido em 1954).

Umberto Domenico Ferrari é tão cativante quanto Antonio Ricci, de Ladri di biciclette (1948). Recebendo uma aposentadoria com valor muito baixo, este senhor luta para comer, dormir e cuidar de seu cachorro (que se torna um elemento central na história). A única pessoa com quem Umberto pode contar é Maria, a ajudante da pensão onde vive que teme ficar desempregada por conta de uma gravidez indesejada.

Passamos a criar uma feição pelo personagem interpretado por Carlo Battisti (em seu único trabalho como ator, já que trabalhava como linguista). Quando Umberto perde seu cachorro e luta para reencontra-lo, o espectador compreende a feição entre os dois: o cachorro era o único amigo de Umberto. Seus antigos parceiros negam dinheiro e não se mostram abertos para diálogo. Ao pensar em dar um fim a sua vida, Umberto olha para o cachorro como um filho, do mesmo modo que um pai observa seu bebê e entende que não pode deixá-lo sozinho neste mundo. A última cena do filme é emocionante, me marcou muito.

Mostrando uma Roma sem perspectivas de melhoras, o diretor Vittorio De Sica colocou um alvo em seu peito. Apenas após algumas décadas o filme passou a ganhar o merecido reconhecimento. Ontem falei de Bergman: segundo o sueco, Umberto D foi a maior produção da história do cinema, muito pelo fato do diretor usar as telas para fazer uma crítica direta às políticas italianas.

Recomendado!

NOTA: 9/10

sábado, 1 de fevereiro de 2014

Nattvardsgästerna/Winter Light (Luz de inverno) - 1963


Entender a fé do homem foi uma das principais preocupações de Ingmar Bergman. O diretor sueco questionou tudo o que podia, desde o sentido religião até símbolos e rituais em sua vasta  filmografia. Luz de inverno, segundo o próprio Bergman, foi o melhor filme que produziu em sua vida.

Tomas (Gunnar Björnstrand) é um padre de um pequeno vilarejo que reza missas e investe em longos diálogos com os fiéis (apesar da pouca participação dos fiéis - na primeira cena do filme, apenas sete pessoas estão presentes no sermão). Sua fé é testada quando um homem com pensamentos suicidas passa a questionar Deus, muito pelo medo dos chineses lançarem uma bomba atômica (vale mencionar que o filme foi rodado um ano antes da Crise dos Mísseis de Cuba). Porque o criador do universo permitiria ver seu mundo destruído pelas mãos de seus criados?

Além da falta de fé do próprio padre, o longa trata de seus problemas pessoais, que vão desde a morte de sua mulher até o desejo de uma fiel em se casar com Tomas. O clímax do filme, sem dúvida, é o diálogo final sobre a interpretação da Paixão de Cristo: o questionamento sobre o sofrimento de Jesus encaixa perfeitamente com o que vimos ao longo de oitenta minutos (não quero ir adiante para não soltar um grande spoiler).

Apesar de ser produzido nos mesmos moldes de todos os grandes filmes do diretor, eu não recomendaria este filme para alguém que não conhece Bergman. A monotonia das cenas iniciais, uma tomada de seis minutos com uma atriz dialogando diretamente com as câmeras, e algumas complexas passagens sobre religião podem afastar o espectador. De todo o modo, é um filme interessante, que, apesar de não agradar a todos, foi muito bem planejado e produzido.



NOTA: 7/10

sexta-feira, 31 de janeiro de 2014

The Wolf of Wall Street (O Lobo de Wall Street) - 2013


Incrível. Supremo. Alguém me explica a química entre Martin Scorsese e Leonardo DiCaprio? Não consigo achar palavras. Estou levemente inclinado a dizer que, com mais um filme deste calibre, essa parceria vai ser tão impactante quanto Scorsese/DeNiro. The Wolf of Wall Street (O Lobo de Wall Street) tem três horas de duração. Mas não parece. A história é tão bem explorada que você não sente que o tempo está passando. Tantos personagens, tantos ambientes. É impossível não olhar este filme e dizer algo como: “wow, os caras realmente são bons”.  

Imagino a tristeza que Scorsese sentiu ao reduzir o filme de seis (sim, seis horas) para os cravados 180 minutos pedidos pela Paramount Pictures. O filme é pesado. Abuso de drogas, muito sexo. E os produtores ainda tiveram que trabalhar muito para não tomar um rating NC-17 nos Estados Unidos (que é o grau de controle mais alto imposto pela agência americana MPAA). Ainda assim, é o filme que mais utilizou a palavra fuck na história do cinema (569 vezes, média de 3 por minuto).

Money talks!
Leonardo DiCaprio. Acredito que seja o ator mais talentoso de nossa geração. Logo no começo do filme, pensei que a obra fosse tomar traços como Catch Me If You Can, onde Leo interpretou o também trapaceiro Frank Abagnale Jr. Mas estava muito engranado. A história de Jordan Belfort, brilhantemente adaptada por Terence Winter é inacreditável. O cara fez de tudo um pouco. O filme cobre desde os primeiros dias de Jordan como corretor de Wall Street até os elaborados esquemas de manipulação do stock market americano. A ascensão e queda de Jordan é acompanhada por Donnie Azoff (Jonah Hill), um homem que vira amigo do trapaceiro logo no começo de sua carreira. Azoff foi a coisa mais próxima do que Jordan poderia chamar de um amigo. Tentou ao máximo proteger seu chefe, mas não era nenhum cordeirinho. Tinha poder, abusava de drogas, mas sempre mostrava gratidão ao chefe, especialmente pelo fato de Belfort ter oferecido a ele um emprego logo no primeiro encontro entre os dois.

Vamos falar do elenco secundário? Deus, que elenco! Não sei se chega a ser tão bom quanto o de American Hustle (até porque teria que entrar no mérito de tempo), mas o trabalho de Matthew McConaughey (bem magrinho por conta das filmagens de Dallas Buyers Club), Jean Dujardin (simplesmente a melhor escolha possível para interpretar um banqueiro suíço) e Rob Reiner é de primeira classe. No meio de uma série de trapaceiros, temos um personagem que representa a lei. Ele é o agente do FBI Patrick Denham (Kyle Chandler), o homem responsável pela investigação que acabou levando Jordan para a cadeia.

A trilha sonora (muito importante para acompanhar as três horas de filme) é boa. A direção de fotografia trabalhou muito bem e o voice-over de Leonardo DiCaprio em algumas cenas dá a impressão de quebra da quarta parede (especialmente em uma parte do filme onde Jordan passa a explicar o que era uma initial public offering e depois diz: Ah, mas você não está entendendo nada aí, não é mesmo). Esse bom humor tornou o filme muito agradável.

Mas a recepção do filme não foi feito só de elogios. Uma série de investidores de Wall Street reclamaram da forma como Jordan foi levado às telas. Além disso, algumas vítimas dos golpes do vigarista fizeram cartas públicas de repúdio a produção. A grande reclamação é que o filme não focou, em nenhum momento, nas vidas que Belfort destruiu. Pois é. Quando ele vendia pink sheets no começo de sua carreira fez muito dinheiro manipulando gente de classe média, que apostou que poderia fazer lucro fácil no mercado de ações. Jordan deu algumas entrevistas recentemente e se negou a pedir perdão, citando que faria tudo novamente. Hoje ele vive de palestras motivacionais.

Deixando essa polêmica de lado, quero deixar duas coisas claras:  1) The Wolf of Wall Street é um dos melhores filmes de 2013 e 2) após acabar o filme fui correndo no thebookdepository.com comprar a biografia de Jordan Belfort.

You did it again, Mr. Scorsese. You did it again, Leo.

NOTA:10/10

quinta-feira, 30 de janeiro de 2014

Love and Death (A Última Noite de Bóris Grushenko) - 1975


Olá pessoal! Decidi ir para a praia por alguns dias para refrescar a memória. No entanto, não poderia deixar de atualizar o blog diariamente. Então decidi levar para minha curta viagem alguns filmes clássicos que estava namorando, além de mais alguns contenders para o Oscar.

Hoje a crítica é sobre o filme de Love and Death (A Última Noite de Bóris Grushenko, no Brasil). Eu sempre preferi o Woody Allen do drama do que o da comédia. Mas este filme me recompensou com boas risadas. Situado no período das guerras napoleônicas, Bóris Grushenko um medroso pacifista é forçado a se alistar no exército russo. Após receber a notícia de que sua prima Sonja (brilhantemente interpretada por Diane Kreaton), grande amor de sua vida, estava comprometida a um mercador, ele se torna herói de guerra por acaso. É apenas o começo de uma cadeia de eventos que passa pelos campos de batalha, mostra um duelo pela honra e o planejamento de uma tentativa de assassinato a Napoleão Bonaparte.

Em uma comédia muito mais madura do que Bananas (1971), Allen construiu uma paródia SENSACIONAL de alguns diálogos de obras de Dostoyevsky e Tolstoy. O espectador que não leu Crime e Castigo, por exemplo, pode ficar boiando quando Bóris passa a filosofar sobre o sentido da vida e não entender a piada.

Adorei as gags relacionadas a alguns clássicos do cinema: a melhor delas foi a sátira à Morte, que vestia branco ao invés do negro de O sétimo selo (1957).

NOTA: 7/10

quarta-feira, 29 de janeiro de 2014

The Color of Money (A Cor do Dinheiro) - 1986


Em 1961, Robert Rossen dirigiu The Hustler, o melhor filme relacionado a bilhar já feito. O jovem Paul Newman se destacou no papel de Eddie Felson, um jovem jogador que desafiou o campeão local. O longa foi responsável direto pela consolidação de Newman como uma estrela do cinema americano e deu um boom na popularidade do bilhar, quando finalmente os canais americanos começaram a transmitir partidas e os primeiros grandes nomes do esporte começaram a surgir.

No ano em que Platoon venceu o Oscar de melhor filme, The Color of Money deu a Paul Newman o tão cobiçado prêmio de melhor ator, interpretando o mesmo personagem de 1961.

Não tenha dúvidas: o filme foi feito para Newman se destacar. Esta foi a principal falha de Scorcese, pois várias histórias são propostas para o espectador e nenhuma delas é trabalhada de maneira satisfatória: na primeira meia hora de filme, somos apresentados a Vincent Lauria (Tom Cruise), um jovem jogador extremamente confiante de suas habilidades. Felson, que deixou de jogar e passou a atuar como negociante no ramo de bebidas alcoólicas, vê futuro (e uma mina de ouro) em Lauria e passa a orientar o garoto.  Para Felson não basta jogar bem: um jogador completo tem que entender o mundo das apostas para fazer dinheiro.  Deixar de ganhar um jogo pode ser essencial para obter sucesso no futuro. Ou seja, a velha história do profissional aposentado que quer passar a tocha para um new gen.

Na meia hora seguinte, Lauria e sua namorada (Mary Elizabeth Mastrantonio) tentam “tirar o rei do trono”. De todas as formas, Vincent quer mostrar para Felston que ele realmente é bom. Toda a história do aprendizado de Lauria é deixada de lado após a primeira hora de filme para dar atenção a nova jornada de Fast Felson no jogo. Após ser derrotado por um jogador trapaceiro (interpretado por Forest Whitaker), Felson passa a treinar, estudar e chega até mesmo a fazer novos óculos para evitar a desculpa que não enxergava direito para retomar a atividade. É a história da superação, do cara que não esquece o que faz.

Tenho absoluta certeza que a cena final não foi feita com consenso dos roteiristas ou dos produtores. SPOILER ahead. Felson e Lauria se enfrentam em uma partida e, antes da primeira tacada, rolam os créditos finais. Mas não antes de Felson pronunciar “I’m back in the game” com um memorável smirk. Cruise, que tinha tudo para ser um ótimo protagonista, virou apenas um bom apoio para deixar Newman roubar a cena.

Grande Paul Newman! Venceu o Oscar justamente com o filme mais fraco pelo qual foi indicado ao prêmio. Um ano antes, a Academia havia premiado o ator com um Oscar honorário. Mas os pessoal não teve dúvidas ao dar o prêmio a Newman em 1987, considerando os fracos concorrentes daquele ano. Muito justo!

Em uma rápida comparação, este filme me lembrou muito de uma situação que comentei recentemente, em  August: Osage County. The Color of Money foi feito sob medida para o ator principal brilhar, assim como aconteceu com Streep no filme citado anteriormente. A história não é das melhores, mas engolimos a seco para acompanhar uma atuação de primeiro nível de uma das maiores lendas da história do cinema.


NOTA: 6/10

terça-feira, 28 de janeiro de 2014

12 Years a Slave (12 Anos de Escravidão) - 2013


12 Years a Slave (12 Anos de Escravidão) deve ganhar o Oscar de melhor filme este ano. Apesar de ter assistido ao longa antes de começar o blog, irei discutir rapidamente alguns pontos sobre o filme, até pela sua crescente importância.

Dirigido por Steve McQueen, o longa conquistou boa parte da crítica especializada americana. A história é baseada na autobiografia de Solomon Northup (Chiwetel Ejiofor), negro violinista de Nova York que é sequestrado durante uma apresentação em Washington. Tratado como mercadoria, Solomon é vendido para um proprietário de terras da Louisiana, onde passa doze anos como escravo em condições subumanas.

Apesar da atuação do elenco principal ser algo a destacar, a história e as opções do diretor não me agradaram. O filme é demasiado lento. Contexto histórico? A preocupação dos produtores foi entrar no mercado americano, se você não sabe sobre o período do escravismo estadunidense leia um livro ou artigo antes.

O maior absurdo é querer comparar 12 Years a Slave com Schindler's List. O drama sobre a vida de Oskar Schindler é completo em todos os aspectos. A extensa explicação sobre as condições de vida dos judeus na Polônia aliado a análise do psicológico de Amon Goeth (Ralph Fiennes), por exemplo, é algo que surpreende e arrepia. 12 Years, por outro lado, é apenas mais uma das tantas histórias de sofrimento. As longas tomadas com cenas de estupro ou castigos são desnecessárias e repugnantes. O que poderia ser apresentado em segundos leva três, quatro, cinco minutos. Alguém vai me dizer: “mas estas cenas são necessárias para entender o sofrimento de Solomon!”. Ora, se tal tipo de apelação fosse verdade, então será que um filme que trata sobre genocídio teria que apresentar somente cenas sobre detalhes de um determinado massacre para cumprir seu objetivo principal? Obviamente não!

A extrema preocupação do diretor em passar ao espectador a mensagem que Solomon sofreu muito na vida acabou deixando de lado qualquer possibilidade de entender quem realmente era Solomon, a pessoa livre. Acredito que no dia que algum roteirista talentoso se sentar e trabalhar em cima do clássico Uncle Tom's Cabin, de Harriet Stowe, teremos um filme de primeiro nível sobre a escravatura nos EUA. Até lá, ficamos com 12 years a slave, que não é de todo ruim.

NOTA: 6/10

Jackass Presents: Bad Grandpa (Jackass Apresenta: Vovô Sem Vergonha) - 2013


O filme de hoje é Jackass Presents: Bad Grandpa (Jackass Apresenta: Vovô Sem Vergonha, no Brasil) Assisti ao filme estrelado por Johnny Knoxville devido a indicação ao Oscar de melhor maquiagem.

Esperei pela versão sem censura, que contém dez minutos a mais de cenas. Ao contrário dos outros filmes da série, desta vez temos um plot: Irving Zisman (Johnny Knoxville), um senhor de oitenta anos, percorre os Estados Unidos com seu neto Billy (Jackson Nicoll). A dupla estraga tudo o que vê pela frente, desde uma festa de casamento até um funeral.  Uma das taglines para promover o filme foi “pessoas reais em situações irreais”. O uso de candid-cameras da um ar diferente ao filme. Enquanto temos situações bizarras e engraçadas (como a do jovem Billy em um beauty pageant contest), outras são forçadas ao extremo.

Existem várias discussões no reddit e no IMDB que levantam dúvidas quanto à veracidade das cenas. Não vou dar maiores detalhes. Mas sim, algumas cenas (com a de um jogo de bingo) foram armadas.

Quanto ao ponto que me fez assistir Bad Grandpa: a maquiagem é muito boa. Mas confesso que fiquei surpreso pela indicação da Academia (mas ok, depois que Norbit -2007- foi indicado para receber o prêmio você não dúvida de mais nada).

Nada de novo no front.

NOTA: 4/10

segunda-feira, 27 de janeiro de 2014

Sunrise: A Song of Two Humans (Aurora) - 1927


Um de meus objetivos para este ano é completar minha lista de longas vencedores do Academy Award de melhor filme. Segundo minhas contas (obrigado especial a minha lista no IMDB), faltam 29 títulos. Ou 28. A diferença ocorre graças à premiação feita na primeira entrega de prêmios, em 1929. A Academia criou dos prêmios diferentes: Outstanding Picture (que seria entregue ao filme com melhor história) e Unique and Artistic Production (entregue ao filme mais completo). Enquanto Wings levou o Oscar pela primeira categoria citada, Sunrise: A Song of Two Humans (Aurora, no Brasil) levou o prêmio de produção. E ai começa a discussão. Considerar Sunrise como ganhador do Oscar de melhor filme ou não? Cada crítico tem sua opinião. Os que acham que não, que Sunrise não pode ser considerado como vencedor do Oscar de melhor filme, geralmente citam a decisão tomada pela Academia em 1930, quando  Louis B. Mayer decidiu dar apenas o prêmio para melhor filme e deixou de lado o prêmio para produção, citando que Wings havia recebido o prêmio máximo no ano anterior. Quem considera Sunrise merecedor do prêmio argumenta que as cédulas de votação distribuídas para os membros votantes em 1929 não diferenciava ou dava importância maior para uma ou outra categoria. Em todo caso, vou considerar a opinião de Ebert, Gene Siskel e Roeper. Sunrise divide as honras de 1929 com Wings. Fim da discussão. Esse é o filme que vi hoje e vou avaliar aqui.

Vamos lá. Quer fazer um filme agora? Pegue seu iPhone, tablet, celular. Fácil e rápido. Em 1929, as câmeras de cinema eram verdadeiros trambolhos. Gravar uma tomada exigia paciência e cuidado. Os gastos com edição eram muito altos. Como este é meu primeiro review de um filme mudo neste blog, quero escrever um pouco sobre métodos de avaliação. Como classificar um filme deste tipo? Anos atrás assisti a um episódio bem antigo do programa At the Movies onde um espectador perguntava quais eram os critérios que Siskel utilizava para dizer que um filme mudo era bom ou ruim. O apresentador ficou meio sem jeito, e elaborou uma complexa resposta, onde citava que o conhecimento do contexto histórico do período, das técnicas de filmagem, das formas de casting e das tendências da época deviam ser analisadas com muito cuidado antes de avaliar X ou Y.

É muito difícil você dar um filme como Sunrise para uma pessoa que não é fã de cinema e perguntar se ela gostou do que viu. O que pra nós hoje pode parecer uma história sem sal, em 1929 era divulgada como “a mais bela história de amor de nossos tempos”. Após o estouro de The Artist (2011), muita gente passou a pesquisar mais sobre o cinema mudo, mas pelo que acompanho nas boards (IMDB e reddit), dizer que Chaplin é a única coisa boa daquela época é um crime!

Peter Bogdanovich diz que 1927 foi o melhor ano da história de Hollywood. Ora, se os filmes mudos estavam ganhando superproduções (comprovado com Sunrise), os irmãos Warner acabavam de produzir The Jazz Singer, primeiro filme falado da história. Enquanto Wings emocionava o público, Josef von Sternberg dirigia Underworld, primeiro grande filme de gangsters que influenciou o famoso triunvirato do crime (Little Caesar, The Public Enemy e Scarface – assim que acabar a correria do Academy Awards deste ano vou fazer um post sobre este assunto).

"O homem" enfrentando a tentação
Segundo reza a lenda (devo dizer que essas fofocas de Hollywood são ótimas), William Fox ficou impressionado ao assistir Nosferatu, eine Symphonie des Grauens (1922) e Faust (1926), de F. W. Murnau. Com a ideia de levar o expressionismo alemão para os Estados Unidos, Fox deu um cheque em branco para Murnau fazer uma produção com tudo o que tinha direito. E o alemão abusou. Gastou mais de 200 mil dólares para criar uma cidade que foi mostrada em menos de três minutos de filme (e naquela época ninguém era capaz de fazer tamanho investimento. 200 mil equivale a mais de dois milhões e meio de dólares com o ajuste de inflação). Não falei do trambolho à toa. Se vocês notarem, na maioria dos filmes mudos a câmera é presa ao chão. Isto acontecia pois os equipamentos eram pesados, o que impossibilitava o operador de caminhar com o equipamento, por exemplo. Fox contratou Charles Rosher, o cara que mais entendia sobre operações de vídeo naquela época para tentar mexer a câmera em algumas tomadas sem causar o “efeito tremedeira”. Apesar de não conseguir utilizar a técnica durante todo filme, podemos notar algumas tentativas de movimento, especialmente na cena em que o casal anda pela cidade.

Okay, vamos falar da história. Ela é muito simples: um homem (George O'Brien) vivia uma vida feliz com sua mulher (Janet Gaynor), até que uma mulher da cidade (Margaret Livingston) tenta fazer o possível para engatar um relacionamento com o rapaz e fazer com que ele venda sua propriedade. Não quero avançar muito no plot pois existe um twist que dá ares dramáticos a história.

O cinema mudo apostava muito na expressão facial. Em Sunrise, elas são elemento chave para entender o turbilhão de sentimentos que se passa na cabeça do homem. Ficar com sua mulher ou ir para a cidade com sua amante? Atuações impecáveis. Outra coisa que me chamou atenção foi as transições de cena. Justamente pelo fato da mobilidade do cinema mudo ser quase impossível, o diretor tentou suavizar isto com cortes e transposições de imagem muito suaves e agradáveis. Não é uma coisa brusca. Para ficar claro: ao invés de cortar do rosto do homem para o rosto de sua mulher, por exemplo, o diretor buscou harmonizar, cortando do rosto do homem para o mar, e então para o de sua amada. O resultado é ótimo.

Falei sobre algumas revoluções do cinema no ano de 1927. Quase ia me esquecer de citar outra: Sunrise foi o primeiro filme a utilizar a tecnologia Movietone sound system. Apesar de o filme ser mudo, alguns efeitos de áudio foram gravados, como as músicas de uma orquestra e as risadas das pessoas em uma festa. A tecnologia de Fox só não ganhou mais espaço, pois o Vitaphone dos irmaõs Warner virou o queridinho de Hollywood.

Sunrise pode parecer simples, mas é um filme muito ambicioso. O drama disfarçado de romance e com uma pitada de suspense foi um dos grandes filmes da década de 1920.

NOTA: 9/10



domingo, 26 de janeiro de 2014

American Hustle (Trapaça) - 2013


Hoje temos aqui o filme nomeado para 10 Academy Awards. Wow! No começo do filme, a mensagem "some of this actually happened” é bem interessante. Os produtores tomaram como base o escândalo do Abscam, uma operação gigantesca montada pelo FBI em Long Island para deter a corrupção e a venda de licenças indevidas para construção. Quando soube do lançamento do filme,  na metade de 2013, comprei o livro The Sting Man: Inside ABSCAM, de Robert Greene para saber mais detalhes do que realmente aconteceu e estabelecer uma comparação com o filme. Pensava que aquela tradicional frase “baseado/inspirado em fatos reais” seria utilizada, mas não, não foi. Por que? Bem, muito pelo motivo de que a investigação não teve o charme apresentado pelo filme. E a prisão de um senador e seis membros do congresso dos Estados Unidos no fim da década de 1970 não foi tão difícil de conseguir – bastou paciência e alguns grampos. Ao mesmo tempo em que a história do escândalo do Abscam serviu de base para American Hustle, a cadeia de eventos e vários personagens chave foram alterados para dar ao filme um ar muito parecido com o de The Sting (1973).

Diferentemente histórias absurdas e sem sentido que misturam vigaristas com o FBI (sim, estou falando de você Now You See Me), David O. Russell foi maduro o suficiente para não abusar do velho truque de criar várias surpresas falsas durante o filme: ao invés disso, a trama tem apenas uma grande reviravolta, guardada para a parte final do longa.

Irving Rosenfeld (Christian Bale) e Sydney Prosser (Amy Adams) formam um casal de vigaristas que aplicam o golpe do crédito fácil. Após serem descobertos e presos pelo agente do FBI Richie DiMaso (Bradley Cooper), eles aceitam trabalhar para a agência em troca do perdão de seus crimes. Mas para conseguirem retomar suas vidas, Irving e Sidney se envolvem com a Máfia e com grandes powerbrokers  de New Jersey, já que DiMaso os coloca como personagens centrais de um plano para prender pelo menos quatro grandes figuras americanas e envolve Carmine Polito (Jeremy Renner), poderoso político local, como um intermediário entre o casal e o FBI. Só que Rosalyn (Jennifer Lawrence) não aceita ver Irving, seu marido, de caso com Sydney e pretende fazer a vida do personagem de Bale um inferno até que ele volte para casa e crie seu filho adotivo com ela.

Direção de arte, fotografia, maquiagem e figurino fora de série. Incrível! A trilha sonora recria o ambiente da década de 1970 nos EUA com perfeição, com scores de Duke Ellington, Frank Sinatra, Elton John e Santana.

Um dos grandes momentos do filme é uma reunião de Irving, Sydney, Polito, DiMaso e um sheik árabe (parte do esquema para capturar congressistas que aceitam suborno) com a máfia. E quem representa os mafiosos? BOBBY DENIRO! Sim, Robert DeNiro. Sua curta participação foi tão especial que me lembrei muito de James Conway, de Goodfellas (1990). O cara foi feito para esse tipo de papel! O elenco é sensacional, não preciso desenvolver muito sobre isto, né? Mas digo que se houvesse um Academy Award para o diretor de casting, certamente ele seria para American Hustle neste ano. A atuação que mais me chamou a atenção foi a de Renner. Okay, temos Bale, Adams, Lawrence, Coope. Todos fizeram bonito, conseguiram convencer bem. Mas Renner deu vida a um político que quer fazer o bem para comunidade ao mesmo tempo em que não quer deixar seus luxos de lado. Até por este motivo Irving cria uma grande amizade com Polito, que será testada nos momentos finais do filme.

American Hustle consegue ser divertido ao explorar o submundo sujo de New Jersey. Temos aqui um dos melhores filmes de 2013, que certamente será premiado com alguns Academy Awards. Parabéns para Russell, que conseguiu a difícil proeza de engatar uma sequência de três bons filmes no seu currículo (com The Fighter, de 2010 e  Silver Linings Playbook, de 2012).

O filme estreia dia 7 de fevereiro nos cinemas do Brasil.

NOTA: 8/10

sábado, 25 de janeiro de 2014

The Spectacular Now - 2013


Um filme com diálogos bem escritos, uma interessante química entre os protagonistas, um elenco promissor (especialmente Miles Teller, vamos ficar de olho) e uma direção de arte boa. O filme poderia fazer jus ao título se não tentasse explorar tanto o lado psicológico de Sutter (interpretado por Teller), um jovem rapaz que não tem perspectiva nenhuma para o futuro. Após sair bêbado de uma festa, ele conhece Aimee (Shailene Woodley), uma jovem tímida que se apaixona pelo problemático garoto.

O desenrolar da história está diretamente ligado ao pai de Sutter, que o abandonou muito cedo. A busca pela justificativa das ações de Sutter é chata e enrolada. Ao mesmo tempo em que acompanhamos o romance dos jovens, parece que tudo vai dar sempre errado por conta do passado de Sutter. O roteiro de Michael H. Weber e Scott Neustadter, os mesmos caras do ótimo 500 Days of Summer (2009), com certeza irá agradar os fãs de filmes slice- of-life.

Mas The Spectacular Now tem seus méritos. James Ponsoldt apostou em contar uma história de amor muito diferente do que estamos acostumados em assistir: a prom night é apenas mais um evento, e não o centro do filme. A formatura do colégio é apenas um ritual comum, e as amizades do casal não interferem em suas decisões.
Para quem curte o gênero, se prepare, pois Weber foi o responsável pelo roteiro de The Fault in Our Stars, que será lançado em junho.

NOTA: 6/10

sexta-feira, 24 de janeiro de 2014

Bad Day at Black Rock (Conspiração do Silêncio) - 1955


Bad Day at Black Rock é muito mais que um thriller. Combina elementos de um típico western com um toque de film noir. Com direção do grande John Sturges e estrelado pelo lendário Spencer Tracy, é impossível não se lembrar de High Noon ao assistir este longa.

A história se passa na pacata Black Rock. John J. Macreedy surpreende a cidade fazer parar o trem que passa pelo vilarejo para se hospedar em um hotel da região. Devido ao fato da cidade estar muito isolada, os habitantes desconfiam das intenções de John J. Então entendemos porque o filme no Brasil se chama “Conspiração do Silêncio”: os habitantes da cidade sabem por que John está lá, mas o espectador não sabe o que ele procura. Apenas sabemos que John está atrás de um agricultor japonês que não responde suas cartas desde 1941 (o filme se passa logo após o fim da Segunda Guerra Mundial, em 1945).

Todo o suspense em torno do segredo da cidade é muito bem construído. Assim como Gary Cooper em High Noon, a cidade está contra John J e sua morte é desejada por todos, desde o agente funerário até o dono do hotel (ou seja, outnumbered in a big way, como diria Ronald Reagan). Uma cena de perseguição no deserto é o ponto alto do filme, considerando que ele foi rodado em 1955.

Teria tudo para ser um grande filme se o final não fosse tão apressado. Parecia que os produtores tinham o tempo controlado no relógio. Entre a revelação do segredo final e seus desfechos, temos apenas, sim, APENAS 5 minutos. Dá a clara impressão de que não havia muito que contar após a revelação do que aconteceu com o japonês.

Vale para os fãs de Tracy e Sturges.


NOTA: 6/10

quinta-feira, 23 de janeiro de 2014

La grande bellezza (A Grande Beleza) - 2013


Meus amigos, este é o melhor filme que vi nos últimos anos. Estou escrevendo esta crítica cerca de cinco minutos após encerrar a projeção desta pérola e posso garantir que você deve ir CORRENDO atrás desta obra de arte.

Tenho absoluta certeza que meus filhos ou netos vão encontrar “A Grande Beleza” no topo das listas dos melhores filmes produzidos na Itália, junto de Nuovo cinema Paradiso, La vita è bela, Ladri di biciclette e La Dolce Vita. Aliás, falando sobre este último, é impossível não fazer comparações de  Marcello Rubini (interpretado por Marcello Mastroianni em 1960) com o simpático Jep Gambardella (Toni Servillo).
Jep é um escritor que ainda colhe os frutos de um livro que escreveu quarenta anos atrás. Além de muito dinheiro, sua vida foi recheada de festas, mulheres e luxo. Ao completar 65 anos, Gambardella passa a questionar sua vida e busca algum tipo de inspiração para escrever um novo livro. Ao entrar a fundo na sociedade de Roma, Jep se encontra com um mágico, uma stripper, uma freira (considerada como uma santa em vida pelos seus próximos) e sua preocupada editora (só para citar alguns). Nos 140 minutos de filme, podemos notar uma crítica aguda a vida sem rumo de Jep. Ele sabe quais são os seus problemas, mas não consegue, de forma alguma, arranjar a solução. A busca pela “grande beleza”, que é abordada nos minutos finais do filme com um diálogo emocionante envolve completamente espectador. Sim, você é sugado para a história a tal ponto de querer opinar sobre certas atitudes de Jep.

Paolo Sorrentino nos presenteou com o melhor filme de 2013, em minha opinião. Permita-me citar meu diálogo favorito do filme, em italiano:

Finisce sempre così. Con la morte. Prima, però, c'e stata la vita, nascosta sotto il bla bla bla. É tutto sedimentato sotto il chiacchiericcio e il rumore. Il silenzio e il sentimento. L'emozione e la paura. Gli sparuti incostanti sprazzi di bellezza. E poi lo squallore disgraziato e l'uomo miserabile. Tutto sepolto dalla coperta dell'imbarazzo dello stare al mondo. Bla, bla, bla.  Altrove, c'e l'altrove. Io non mi occupo dell'altrove. Dunque che questo romanzo abbia inizio. In fondo, é solo un trucco. Sì, é solo un trucco.

Ô Academia. Vocês estão de brincadeira? Dias atrás escrevi sobre a disputada categoria de melhor ator. Sim, realmente temos uma porção de filmes muito bons, mas não ter premiado Toni Servillo, mesmo que apenas com uma indicação, foi um crime!

A fotografia é algo que só você assistindo para explicar. Ao mesmo tempo do charme de Roma, podemos observar o tão temido vazio que a cidade apresenta para Jep (muito bem exposto em uma caminhada do protagonista nas ruas vazias da cidade). A trilha sonora é limpa e muito interessante.


Assistam a este filme! Dou minha palavra que não irão se arrepender. 

NOTA: 10/10

quarta-feira, 22 de janeiro de 2014

All is Lost (Até o fim) - 2013


Robert Redford foi um dos heróis da minha infância. The Natural (1984) foi meu filme favorito por um bom tempo. Adorava ver e rever Redford no papel de Roy Hobbs. Quando estava triste ou desmotivado, me lembrada da frase “And then when I walked down the street people would've looked and they would've said there goes Roy Hobbs, the best there ever was in this game.”  Devo citar também outros filmes memoráveis deste ator: All the President's Men (1976), Butch Cassidy and the Sundance Kid (1969) e The Sting (1973, com o plus de estar na lista do meu top 10 atual). Redford é um ator completo. All is Lost apenas confirma o que todos já sabem: o cara é bom!

Em um filme de menos de 5 frases, o espectador é convidado a acompanhar a luta do “nosso homem” (nome como é referido o personagem nos créditos finais). Após encontrar uma rachadura no casco de seu barco, tenta de todas as formas possíveis bolar um plano para sobreviver e ser resgatado em alto mar. Escrito e dirigido por J.C. Chandor, que ganhou fama após o ótimo Margin Call (2011), o filme virou o queridinho dos críticos profissionais, chegando a estar em algumas listas das melhores produções de 2013. O fato de Robert não ser indicado ao Óscar não surpreende: dificilmente a Academia iria premiar este tipo de filme. A nomeação para edição de som, no entanto, é muito justa.

Apesar de entender a proposta do diretor, gostaria de saber mais sobre o passado do nossos homem. Visivelmente, podemos notar que ele é um marinheiro rico e boa pinta. Mas sua tranquilidade frente a morte e seus raros momentos de raiva não podem ser totalmente compreendidos sem a referência a seu background.

A luta pela sobrevivência, tão explorada pelo cinema nos últimos 10 anos,  ganhou uma produção de primeiro nível para as listas deste gênero. Apreensão, emoção e tensão: Chandor mostra que uma produção boa pode ser realizada de forma simples e inovadora. Confesso que ao saber da produção deste filme, no começo do ano passado, temia pelo pior. Cheguei a considerar que o fracasso poderia manchar a carreira de um dos meus ídolos no cinema, pois pensava que este tipo de produção não iria dar certo (fiquei traumatizado após assistir Gerry  - 2002). Ufa, que bom que estava enganado! Redford, you rock!
NOTA: 8/10

terça-feira, 21 de janeiro de 2014

Le dîner de cons (O Jantar dos Malas) - 1998


Le dîner de cons (O Jantar dos Malas), com roteiro e direção de Francis Veber, foi uma das principais comédias francesas da década de 1990.

Descobri o trabalho deste realizador após receber uma boa indicação de Le placard (que é muito bom, por sinal). No filme de menos de oitenta minutos, o diretor aposta em piadas rápidas e situações inesperadas para conquistar o público. Cada semana, membros da alta sociedade de Paris organizam um “jantar de idiotas”, onde cada convidado é desafiado a trazer uma pessoa fora da casinha. Pierre (Thierry Lhermitte), conhece por acaso François (Jacques Villeret) um atrapalhado funcionário do departamento federal de finanças.  Na noite do jantar uma série de problemas começam a aparecer após a chegada de François.
O filme fez um estrondoso sucesso, sendo indicado para seis prêmios César e vencendo três, incluindo melhor ator (para Villeret).

Apesar de garantir algumas risadas, a forçada de barra em algumas situações chegou a um ponto em que uma piada sem graça passa a parecer completamente absurda  e descontextualizada. Ah, e isso aconteceu muito, infelizmente.

Parecia que eu estava assistindo uma comédia americana.

NOTA: 5/10

segunda-feira, 20 de janeiro de 2014

The Lavender Hill Mob (O Mistério da Torre) - 1951


Não é só de filme novo que é feito o blog. The Lavender Hill Mob (O mistério da torre) é uma deliciosa comédia britânica produzida no inicio da década de 1950, faturando o Óscar de melhor roteiro original, desbancando Viva Zapata. Estrelado pelo mestre Alec Guinness, o filme trata sobre a história de Holland, um funcionário de um banco londrino que monta um plano para desviar uma carga de ouro junto com seu novo vizinho (interpretado por Stanley Holloway), um fabricante de souvenir.

Já sabemos que o golpe foi bem sucedido nos segundos iniciais do filme, pois Holland aparece desfrutando sua aposentadoria no Rio de Janeiro. O planejamento do golpe, muito bem contextualizado e sintetizado, foi elaborado pelo roteirista T.E.B. Clarke. A sensação de imersão na história é tão boa que você nem sente os 80 minutos passarem.

Este filme ganhou um status cult também pela presença de duas estrelas no seu inicio de suas carreiras. Robert Shaw e Audrey Hepburn fizeram pontas muito rápidas, despertando a curiosidade dos fãs, que pressionaram o estúdio Anchor Bay a produzir mais cópias em DVD, considerando que seu lançamento, em 2002, foi limitado apenas para a região de Londres.


Alec Guinness foi indicado ao Óscar de melhor ator, mas perdeu para a memorável atuação de Gary Cooper em High Noon. Apesar de exagerar em situações irreais (como na cena onde os dois vigaristas fogem de uma Academia de Polícia de forma desastrada), recomendo a produção.

NOTA: 7/10

domingo, 19 de janeiro de 2014

August: Osage County (Álbum de Família) - 2013



Senhoras e senhores, este é o filme responsável pela décima oitava indicação de Meryl Streep ao mais cobiçado prêmio do cinema.

Confesso que esperava um filme bem ruim. As críticas do The Guardian e do San Francisco Chronicle detonaram os produtores e o diretor John Wells. No entanto, a máxima de que o cinema só é o que é pelas diferentes interpretações de um filme é válida neste caso. O filme trata sobre a história de uma família após a morte do patriarca. Com a viúva Juliet, interpretada por Steep, em um delicado estado de saúde (seu câncer na boca e o constante uso de medicamentos alteram constantemente seu humor), os filhos se reúnem em Oklahoma para o funeral e decidem lavar a roupa suja. Então, meus amigos, temos revelações de adultério, uso de drogas, separação e outras revelações bombásticas.Julia Roberts interpreta a Barbara, que não aceita o vicio de sua mãe e a enfrenta sempre que possível para que ela possa, um dia, retomar sua vida de uma maneira “limpa”.

O filme é ruim? Não, pelo contrário, é muito interessante. É cansativo? Sim, extremamente cansativo. O grande problema é que temos duas atuações excepcionais dentro de um filme “normal”. Fica evidente que o personagem de Juliet foi escrito com Streep em mente. Sua atuação é memorável (ao ponto de eu garantir que sua interpretação não deixa nada a dever para a incompreendida Joana de Kramer vs. Kramer). Me parece que este foi também o pensamento da Academia. As histórias paralelas se perderam, e no final do filme o espectador pode ser perguntar: “tá, mas qual era a história mesmo”.

O ponto que mais me indignou foi a tentativa de recriar um ambiente baseado no extraordinário Festen (1998), com uma sequência de bombas sendo despejadas em um espaço curto de tempo. O filme perdeu sua identidade.

“O cinema só é o que é pelas diferentes interpretações de um filme”. É. Disse isso porque alguns amigos e alguns críticos profissionais como Scott Foundas analisaram o filme de outra maneira, explorando o lado psicológico dos personagens ao invés da história. Talvez se eu conseguisse fazer uma forcinha me arriscaria em estruturar os comportamentos dos personagens de Streep e Roberts. Mas depois das minhas tentativas frustradas de entender  Mulholland Dr, acho que isto tomaria um tempo do qual não possuo.

Não se deixe enganar. É um bom drama. Talvez aquele para se ver em DVD ou Blu Ray muito mais pelos nomes do elenco do que pelo roteiro.

NOTA: 6/10

sábado, 18 de janeiro de 2014

Her (Ela) - 2013


Você acredita que, em um futuro próximo, os humanos possam manter um relacionamento com um tipo de forma de inteligência artificial? A resposta para essa pergunta é essencial para saber até que ponto Her (Ela), estrelado pelo grande Joaquin Phoenix, pode prender sua atenção.

O filme trata sobre Theodore Twombly, um inspirado escritor que enfrenta a solidão após romper com sua esposa. Theodore passa a conversar sobre sua vida com um “sistema operacional” (se não ficou claro, seria como se seu iPhone falasse com você). No primeiro momento o personagem de Phoenix se mostra surpreso pela capacidade de compreensão do sistema com os problemas restritos aos humanos. Aos poucos, os dois se apaixonam. Pronto. É isso que você precisa saber. Qualquer linha a mais que isso irá estragar sua experiência e algumas questões éticas que surgem com o filme.

Spike Jonze merece todos os louros que tem direito. A história me lembrou o que senti quando vi pela primeira vez Being John Malkovich (1999). Aos poucos, deixei de achar a proposta do filme absurda e passa a questionar: e se isso fosse verdade? E se um homem conseguisse se relacionar de todas as formas com um computador?

Joaquin... Eu SABIA que ele não seria indicado ao Oscar. Sério! Acho que vai demorar até a velharada votante de lá engolir aquela declaração de que ele não queria receber nenhum Óscar. Mas ele está magnifico! Brilhante! SENSACIONAL!

A voz do sistema operacional é de Scarlett Johansson. Não preciso dizer que seus tons provocativos se encaixaram perfeitamente na proposta do diretor. Como o filme se passa em um futuro próximo, adorei o jogo de cores. Desde as roupas até as casas retratadas, as são cores vibrantes e a cidade é ativa, movimentada. Fotografia simplesmente espetacular. Mudou aquele padrão de um futuro apocalíptico e monótono.   Merece altos elogios.
Como podem notar, eu realmente adorei o filme. E sinto que este Óscar apresenta a melhor seleção de indicados desde 2004. Enfim, ALL HAIL JP.

NOTA: 9/10


sexta-feira, 17 de janeiro de 2014

The Book Thief (A Menina que Roubava Livros) - 2013


A Menina que Roubava Livros é um filme adaptado do livro de mesmo nome, lançado em 2005 pelo escritor Markus Zusak. O livro alcançou sucesso mundial e permaneceu por 230 semanas na lista dos livros mais vendidos do jornal The New York Times.

A história segue Liesel (Sophie Nélisse), uma menina interpretada pela talentosa Sophie Nelisse, que é adotada por Hans e Rosa Hubermann (Geoffrey Rush e Emily Watson), um casal de alemães que se distancia muito dos demais nazistas de sua região. A forte amizade construída pelos pais com a filha durante o filme mostra a tentativa de afastamento da ideologia nazista naquela residência, ficando claro quando eles se deparam com um jovem judeu chamado Max (Ben Schnetzer), e o escondem no porão de casa.

O ponto forte do filme são os lindos cenários da pequena cidade alemã onde se passa o filme. Sim, depois temos problemas, problemas e problemas.O jornal NYT considerou a história como algo parecido com “Harry Potter e o Holocausto”. A crítica dos americanos é que o ambiente nazista está sendo alvo de grandes adaptações que deixam de lado o sofrimento e os absurdos cometidos pelo regime de Hitler para contar histórias maravilhosas de aventuras. Em um fórum de filmes americanos, discuti bastante sobre este assunto, que é polêmico até o fim. Não pretendo abordar isto aqui, já que as opiniões  são muito variadas e este não é o foco da discussão.  Mas fica claro que um jovem de 12 ou 14 anos dificilmente entenderia a Segunda Guerra Mundial ou os nazistas a luz deste filme. Certamente este não foi o objetivo dos produtores, mas é o principal alvo das críticas dos estadunidenses.

O roteiro, por vezes narrado pela morte (sim!), apresenta falhas grotescas e não explora por um segundo sobre como era ser um nazista na transição da década de 1930 para 1940. Apesar de acompanharmos sete anos da vida da personagem, ela se mantém durante todo filme com o mesmo olhar e rosto angelical de quando aparece na primeira cena. Os uniformes nazistas foram “americanizados”. Digo isto porque doeu ver os panos apresentados como trajes da SA, SS e do exército alemão.

Um filme que tenta contar uma história de superação, junto com uma história de uma linda amizade, que também tenta apresentar uma história de um amor que não deu certo, que também trata de holocausto. O diretor Brian Percival tentou revolucionar mas não agradou.

Esta é a MINHA opinião. O que li de reviews que vão do 1 ao 10 é impressionante. É ame ou odeie na certa! Enquanto o Richard Roeper, grande crítico do Chicago Tribune considerou “um dos melhores filmes de 2013”, o grande Roger Ebert, em um de seus últimos reviews, criticou o ar de solipsismo da produção.

SPOILER (se não viu o filme, peço que acabe a leitura aqui).
Na cena final do filme, quando descobrimos que a menina sobreviveu a guerra e virou uma famosa autora, enquanto a morte fala sobre o sentido da vida e o quão maravilhosa foi Liesel, os produtores não deixaram de lucrar com um marketing horroroso da Apple. Era pra chorar, mas acabei rindo.


NOTA: 5/10

quinta-feira, 16 de janeiro de 2014

Dallas Buyers Club (Clube de compras de Dallas) - 2013


Começo o primeiro post deste blog com Dallas Buyers Club. Hoje saiu a lista dos indicados ao Oscar e percebi que já vi metade dos indicados. Dallas Buyers Club, no Brasil distribuído com o nome “Clube de compras de Dallas”, é baseado na história real de Ron Woodroof (interpretado por Matthew McConaughey), um eletricista que foi diagnosticado com o vírus do HIV em 1985. Logo após a divulgação do exame, ele recebe a informação do médico que teria apenas 30 dias de vida. Ron não aceita o resultado, pois não se encaixava no grupo dos 4 H (homossexual, haitiano, portador de hemofilia ou usuário de heroína).  Mais tarde, se lembra de que teve uma relação com uma mulher que fazia uso de drogas injetáveis e passa a se tornar uma das principais vozes a favor do livre uso de medicamentos para pacientes com AIDS.

Dallas Buyers Club mostra como a FDA (Food and Drug Administration), agência americana que regula a distribuição de medicamentos, cerca um clube formado por Ron para promover a droga AZT, que na época era a única aprovada pelo governo dos Estados Unidos para os pacientes com HIV. Não vou contar mais para não estragar alguns pontos chaves do filme.

Matthew McConaughey está sensacional! Não apenas por incorporar de fato o personagem (o que pode ser notado na drástica redução de peso), mas por utilizar muito bem seu polêmico sotaque texano. Adorei a atuação de Jennifer Garner, que interpreta uma médica que toma simpatia pela causa do personagem de Matthew e passa a ajudar no dia-dia do clube de compras.

O roteiro escrito por Craig Borten e Melissa Wallack teve como base centenas de horas de conversas com Ron Woodroof, onde detalhava sua luta contra a FDA e contra as altas doses de AZT oferecidas pelo governo americano. Uma curiosidade: o primeiro projeto do filme tinha Marc Forster como diretor e Brad Pitt no papel principal. Mais tarde, houve uma alteração na forma de financiamento com a produtora do filme e Ryan Gosling foi convidado para ser dirigido por Craig Gillespie. Após uma série de disputas internas na  Voltage Pictures, finalmente foi atingido um consenso no nome de  Jean-Marc Vallée, que ficou conhecido pela comédia C.R.A.Z.Y (2005).

A fotografia foi muito bem feita. Parece que a Academia não gostou da forma sombria com que Vallée tratou algumas cenas, o que explica a indicação do filme para o prêmio de edição e a não indicação do diretor. A maquiagem feita em McConaughey é um show a parte.
Por enquanto vi apenas dois dos cinco indicados para o prêmio de melhor ator, mas já considero Matthew como um dos dois favoritos. Desde o ano 2000, os filmes baseados em histórias reais foram responsáveis por 21 indicações ao Oscar de melhor filme. Sete (!) dois últimos onze prêmios para melhor ator foram para artistas que interpretaram pessoas reais. Neste ano, além de Matthew, DiCaprio e Ejiofor também foram indicados pelas suas atuações nos papéis de Jordan Belfort e Solomon Northup, respectivamente. Não tenho dúvidas que o prêmio vá ficar entre Matthew e Solomon. O que pode pesar, talvez, seja o fato que o filme Twelve Years A Slave tem potencial para ser o papa Oscar de 2014, além de tratar um delicado tema da história americana.

No mais, recomendo muito o filme! O lançamento no Brasil está marcado para o dia 21 de fevereiro. 

NOTA: 9/10

It's all about the movies!

Olá!

Meu nome é Waldemar. Atualmente estou no final da faculdade de história.

Meu casamento com o cinema tem data registrada: 10 de outubro de 2006. Neste dia me registrei no site IMDB, e desde então passei a contribuir para a expansão da seção em português do maior portal de filmes da internet.

O hobby de ver um filme e de dar a nota no IMDB foi algo que já se tornou quase um vício. O projeto de construir um blog de cinema era antigo: como vejo pelo menos um filme todo santo dia, já havia tentado por duas vezes publicar minhas críticas na internet. Desisti pelos compromissos de faculdade e/ou trabalho, que não deixavam tempo livre para tal tarefa.

Na minha lista de new years resolutions para o ano de 2014, minha prioridade foi ter um tempo para criticar os filmes que eu assisto. E também criar um meio de comunicação com algum eventual leitor que se interesse pelo blog.

Não pretendo tentar elitizar o vocabulário nem trazer metodologias de análise prontas, como defendia o grande Roger Ebert, meu crítico profissional preferido. Pretendo usar uma escrita simples e objetiva.

Que as críticas comecem! ;)

See you at the movies!