Umberto D foi um fracasso de bilheteria na época de seu
lançamento, em 1952. A história escrita por Cesare Zavattini é tão deprimente
que os italianos, em meio a uma tentativa de reestruturação política e econômica,
não aceitaram ver a representação de um filho da desgraça social na grande
tela. Isto fez com que Umberto D se tornasse o responsável direto pelo fim do neorrealismo italiano puro:
as críticas lançadas ao diretor marcaram as transformações feitas por Federico
Fellini, que, nas palavras de Mark Shiel, criou um neorrealismo “autoconsciente
de seu papel” (o que pode ser notado já em La Strada, produzido em 1954).
Umberto Domenico Ferrari é tão cativante quanto Antonio
Ricci, de Ladri di biciclette (1948). Recebendo uma aposentadoria com valor
muito baixo, este senhor luta para comer, dormir e cuidar de seu cachorro (que se
torna um elemento central na história). A única pessoa com quem Umberto pode
contar é Maria, a ajudante da pensão onde vive que teme ficar desempregada por
conta de uma gravidez indesejada.
Passamos a criar uma feição pelo personagem interpretado por
Carlo Battisti (em seu único trabalho como ator, já que trabalhava como linguista). Quando Umberto perde seu cachorro e luta para reencontra-lo, o
espectador compreende a feição entre os dois: o cachorro era o único amigo de
Umberto. Seus antigos parceiros negam dinheiro e não se mostram abertos para
diálogo. Ao pensar em dar um fim a sua vida, Umberto olha para o cachorro como
um filho, do mesmo modo que um pai observa seu bebê e entende que não pode deixá-lo sozinho neste mundo. A última cena do filme é emocionante, me marcou muito.
Mostrando uma Roma sem perspectivas de melhoras, o diretor Vittorio
De Sica colocou um alvo em seu peito. Apenas após algumas décadas o filme passou
a ganhar o merecido reconhecimento. Ontem falei de Bergman: segundo o sueco, Umberto D foi a maior
produção da história do cinema, muito pelo fato do diretor usar as telas para
fazer uma crítica direta às políticas italianas.
Recomendado!
Recomendado!
NOTA: 9/10
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